Uma tragédia silenciosa, uma epidemia, está assustando cientistas do mundo todo. Estima-se que só no Brasil 10 milhões de indivíduos sofram com a doença já considerada o “Mal do Século XXI”. Nosso país vive surtos de depressão e ansiedade.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), nos últimos dez anos o número de pessoas com depressão aumentou 18,4%, isso corresponde a 322 milhões de indivíduos, ou 4,4% da população da Terra.
Depressão é avaliada como uma das doenças mais caras para a sociedade, pois o consumo de antidepressivos no país movimenta cerca de 140 milhões de dólares por ano, além dos prejuízos decorrentes da perda de produtividade e dos afastamentos no trabalho, sem contar os custos do sofrimento humano que não podem ser mensurados.
Estima-se que devido ao desconhecimento das pessoas sobre o tema, somente 1 em cada 4 indivíduos com depressão tem conhecimento do transtorno que o aflige e consegue buscar auxílio. Entretanto, 75% das pessoas com depressão não sabem que estão doentes e por isso sofrem sem tratamento adequado, apresentando entre outros sintomas, perda da autoestima e da capacidade de se concentrar, o que leva a dificuldades profissionais e familiares.
A depressão não surge de um dia para o outro. Ninguém escolhe como prato principal em seu cotidiano ser depressivo. Simplesmente vai acontecendo pouco a pouco, lenta e pesadamente até afundarmos no desamparo, no mau humor, no pessimismo e na incapacidade de reagir.
Michael King, psiquiatra e professor do departamento de Ciências sobre a Saúde Mental da Universidade College de Londres (UCL), é um dos responsáveis pelo famoso teste PredictD, que busca prever o risco da depressão.
Segundo ele mesmo explica, mesmo na atualidade essa doença segue sendo muito estigmatizada:
– Conhecer esses sintomas é importante para que o indivíduo possa sair do grupo dos 75% desconhecedores da doença e consiga buscar tratamento que consiste em psicoterapia e, nos casos graves, no uso de medicamentos conhecidos como antidepressivos.
A depressão é um transtorno psiquiátrico que pode afetar qualquer pessoa, independentemente de sua classe social, cor, orientação sexual, religião, enfim. Qualquer pessoa em qualquer contexto. Apesar de haver casos onde pessoas tem mais predisposição do que outras. Essa doença pode se tornar cada vez mais grave se não for devidamente tratada e reconhecida, sendo responsável pela maior causa dos suicídios.
A doença provoca ainda ausência de prazer em coisas que antes faziam bem e grande oscilação de humor e pensamentos, que podem culminar em comportamentos e atos suicidas, a depressão também incita alterações fisiológicas no corpo, sendo porta de entrada para outras doenças.
A depressão, dependendo da gravidade, pode desencadear, também, doenças cardiovasculares, como enfarto, AVC e hipertensão.
Diferença entre tristeza e depressão
•Tristeza tem motivo. A pessoa sabe que está triste.
•A depressão é uma tristeza profunda e muitas vezes sem conteúdo, sem motivo aparente. Mesmo se algo maravilhoso acontecer ou estiver acontecendo, a pessoa continuará triste.
•A pessoa triste pode ter sintomas no corpo, como sentir aperto no perito, taquicardia, chorar.
•A pessoa deprimida tem pensamentos suicidas.
•Quem está triste costuma ter pensamentos repetitivos sobre a razão da tristeza.
•Quando deprimida, a pessoa sente, pelo menos, duas semanas de uma tristeza profunda e contínua
Luto não é depressão
•As reações de luto, que se estabelecem em resposta à perda de pessoas queridas, caracterizam-se pelo sentimento de profunda tristeza, exacerbação da atividade simpática e inquietude.
•As reações de luto normal podem estender-se até por um ou dois anos, devendo ser diferenciadas dos quadros depressivos propriamente ditos.
•No luto normal a pessoa usualmente preserva certos interesses e reage positivamente ao ambiente, quando devidamente estimulada.
•Não se observa, no luto, a inibição psicomotora característica dos estados melancólicos.
•Os sentimentos de culpa, no luto, limitam-se a não ter feito todo o possível para auxiliar a pessoa que morreu; outras idéias de culpa estão geralmente ausentes.
Causas possíveis para a depressão
As depressões são doenças multicausais, portanto com a interferência de diversos fatores etiológicos. Nas depressões, ocorre um comprometimento multigênico, sendo até três vezes mais frequente em pessoas com antecedentes hereditários positivos.
As depressões podem ser afetadas pelas estações climáticas do ano, sendo mais frequentes no inverno e em países de clima frio. Podem ainda ser influenciadas por privação de sono, intensidade de luz e luminosidade, traumas precoces de vida (orgânicos ou psíquicos), lesões estruturais do cérebro, infecções e viroses, situações de estresse e estilos de vida, condições profissionais específicas, agentes químicos e físicos, outras doenças clínicas e psíquicas (depressões secundárias) e uso de medicamentos.
Fatores psicossociais, como desemprego, aposentadoria, casamentos e separações conjugais, estão correlacionados com aumento nos índices de depressão. Sabe-se por dados de pesquisa que duas a três pessoas entre dez indivíduos têm, tiveram ou terão ao menos um episódio depressivo na vida!
A depressão pode incluir uma combinação de origens biológicas, psicológicas e sociais de angústia. Cada vez mais, as pesquisas sugerem que esses fatores podem causar mudanças na função cerebral, incluindo alteração na atividade de determinados circuitos neuronais no cérebro.
A sensação persistente de tristeza ou perda de interesse que caracteriza a depressão pode levar a uma variedade de sintomas físicos e comportamentais. A depressão também pode ser associada a pensamentos suicidas.
Júlia Camarotti Rodrigues, Marcelo Tavares. (2009) A entrevista clínica no contexto do risco de suicídio.
Cabral, J. C. (2018). «Uma Introdução à Neurociência das Emoções». Universo Racionalista